sábado, 16 de fevereiro de 2013

memórias de humanidade... [provérbios]


[gênesis]  ...da anamnese à diagnose meu relato toma forma e os protocolos vigentes prescrevem a eternidade, eu contudo vejo o fim. ei de morrer de muito ter vivido depois de gasto o corpo prolongado no tempo e oprimido no espaço, corpo eficiente, botolizado, reificado, avançado, desoncolizado, vitalizado, ei de morrer depois de muito ter vivido e gasto o corpo e me cansado de ser este homem. [...]

provérbios


[#]. eu sou um homem porque funciono como tal; entendo o organismo que sou, a dinâmica em mim e as voltas de suas engrenagens;
[#]. saber. podemos saber e prever; e podemos, ouçam todos: controlar os males e superar as feitiçarias, para nos salvarmos da condenação eterna de sermos parvos;
[#]. homens mortais e imortais: qual é afinal a nossa identidade? rompimento e superação, a roda girando;
[#]. o homem olha para si, e o que vê? corporeidade, ele é!  ao seu redor? acessórios de sua própria existência, sua invenção de ver e falar o que sabe que vê;
 [#]. palavrório, pronúncias. sou eu quem diz “o mundo é”, sou eu quem nomeia e porque nomeio significo. não sou mais um animal.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

divindade


desejo crer no deus, e é tão verdadeiro este meu querer que nunca forjei para mim a imagem de uma divindade. quero que o deus exista, sem que seja minha imagem e semelhança, sem que seja inventado por meu inconsciente e violações do outro.preciso ter o deus. sinto que vou morrer de um mal de mágoas, do rancor enraizado nas minhas carnes. do des-espero na lonjura das coisas que não posso tocar. minhas mãos estão doloridas, minha voz secou. me localizo num fora-dentro, o olhar estrangeiro para uma vitrine.tenho uma tristeza que não se nomeia com a palavra triste, que se modifica em um aborrecimento do tempo, das pessoas com suas risadas e suas conversas, do meu corpo que não se aloja, que não se ata e do deus que não vem.


terra vazia


os órfãos desvestiram seus casacos 
nús reconhecíamos a dor sem espaço
janelas há dias fechadas 
o tempo ensinando o costume da falta 
silêncios abreviados 
olhos secando lençóis lavados 
a terra vazia.