segunda-feira, 13 de abril de 2009

fragmentos

a imagem é esta: estou segura as extremidades que se romperam, esforço-me para atar ambas pontas, num nó, num laço. já não estou por um fio... não há mais fio, agora já dois aos quais me agarro. mas, se soltasse uma das pontas? se soltasse todas elas e me deixasse cair? e se me deixasse cair, haveria chão para me arrebentar? haveria um para pisar firme enfim, ou é só abismo, como uma alice caíndo sempre.
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desejo despregar-me de mim, a gente pode tirar férias de si? algo como levar a mãe já velha e cansada para passar um temporada na casa do irmão, só uns dias pra aliviar. só uns dias pra eu me aliviar de mim.
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a significação da vida... a perda da identidade, das referências, perda da fé, do pai, de si. e em perder tanto, achar-se perdida ao ponto de esgotar todas as demais coisas, todas tantas igualmente desinteressantes, mas afundar-se alucinante em qualquer uma que aparência tenha de qualquer entusiasmo. e afundar-se abismal. depois, eu sem mim, esvaziada, dolorida e anestesiada, enquanto cada evento vai me dando a apatia necessária para que a vida esteja por hora suportável, então descubro a fenda, uma fenda no abismo, para onde me esquivo a tentar ser quem sou, não sei quem sou, ao menos daqui não preciso pensar nisto agora, só esquivar-me na fenda. sem choro, sem riso, apenas uma face abismal e insipida, olhando pela fenda de dentro do buraco, aquele abismo para onde alice vai. aqui não é quente e nem frio, nem sono, nem sonho, apenas uma penumbra no meio do dia. e quando descansar de mim, voltarei a ter fome.