sábado, 30 de maio de 2009

educação, o que é isto?

nos anos 90 iniciei os estudos no magistério e me lembro daquelas aulas introdutórias em que havíamos de nos apresentar dizendo o nome e qual a razão de termos escolhido aquele curso, éramos cerca de 40 meninas e a resposta da grande maioria, entre poucas variações era: “escolhi o magistério porque gosto de criança”, aquilo me soava um sem sentido, eu olhava contrariada as meninas-que-gostavam-de-criança, éramos uma geração pós-paquita. gostam de crianças? pois tenham filhos!!!
o caso era que eu acreditava que estava lá porque haveria de existir possibilidades para além do estereótipo da professora-tia, que eu poderia de fato contribuir com a formação de uma criança, que podia auxiliar na construção mesma do indivíduo e também cria que aqueles nobres senhores pensadores da educação, dado seus experimentos, suas tentativas, suas pesquisas e trabalho, indicariam o caminho sobre o qual eu pudesse andar e no qual pudesse encontrar os modelos e as ferramentas necessárias para esta tarefa. no meu entendimento, a educação estava para aquela interferência consciente e sistemática para construção psico/social/intelectual do ser humano. dava para produzir um homem!
pois bem, os anos se passaram, eu concluí o curso e nunca lecionei formalmente. mas então, tive filhos! e qual seria, entre tantas, minha atuação na vida deles? educá-los! finalmente eu descobria que também gostava de crianças, e que educar meus filhos implicava em ser com eles nas horas de folga, nas brincadeiras, nas compras do supermercado, numa xícara de leite antes de dormir. ocorre, contudo que a educação deles se daria com ou sem mim, mas na medida em que eu estivesse no universo de suas vidas, me cumpria, não por dever mas por desejo, vivenciá-los tanto quanto a mim mesma, para que na soma de nossas experiências educássemos uns aos outros e que isto repercutisse no mundo. agora eu cria que eu e aquilo que construía com meus filhos, e os meus filhos propriamente, podíamos reverberar nos de nosso redor, coexistindo no mundo para alcançarmos uma vida feliz, bela, talvez justa e enfim mais vivida. seja qual seja a conceituação destas coisas, fiz tudo por intuição e ainda faço, não sei mensurar se apliquei meus conhecimentos em educação, mas acredito que contribuí de modo muito para a formação deles, que isto os auxilia na vida diária, que eles são quem são também como resultado da minha presença em suas vidas, pois, mesmo intuitivamente, tenho atuado com aquele sentido de que devo isto a eles, a mim e em especial ao mundo, e com meus afetos, meus desejos e minhas crenças, minhas imperfeições, meu medo e as vezes até sem esperança: os educo.
da soma de minhas intelecções do tempo de magistério e minha experiência como mãe, resultam minhas utopias por uma vida boa, em que a educação, seja aquela que se dá na escola, seja a que ofereço a mesa com meus filhos, implica em aprender a conviver com eles enquanto aprendo sobre eu mesma, oferecendo a possibilidade da apropriação de si, para que sejamos autores na esfera de nossa própria vida e não apenas viventes entre viventes e apresentando o mundo e a consciência de que há o outro, para que sejamos existentes entre homens em quem nos reconhecemos e em quem ainda acreditamos porque são nossos iguais. o bom, o belo, o utópico.

k.guimarães - escrito de 2008, muito antes de me tornar uma estagiária no ensino médio...