quarta-feira, 11 de agosto de 2010

lá de casa – olhar de fora


asfalto, conforme sei.
calçadas de ambos os lados e são calmas, mesmo não se vê coco de cachorro nelas, raramente; mas há uns pombos urbanos que um dia a vizinha teve a brilhante idéia de alimentar e agora vivem lá abrindo suas cloacas na minha calçada.
no mais tem a curva que fez o motoqueiro enfiar-se portão adentro depois de arrancar a lixeira de ferro.
por suas dezenas de sobrados, classe média, pouca criança se vê, não que elas não existam, apenas não as vemos, o que vemos são os carros que entram e saem de suas garagens.
um ponto de ônibus e dois terrenos fechados aguardando quem neles construa.
é uma rua e nada mais. uma rua e o esgoto que corre por baixo.
EXERCÍCIO UM

vida – olhar de dentro

veja só.

casas enfileiradas: o que guardam após suas portas?

nenhum jardim que se veja da calçada, porém árvores uma a cada não sei quantos metros – conforme o manual da arquitetura urbana e meio-ambiente - árvores que firmaram raízes bem ali, nela.

pés que a atravessam e sobre eles pernas de toda espécie de gente, também pernas em carros diminuídos de espera por chegar a lugar um, enquanto ela mesma nunca sai do seu lugar, que o lugar de seu é ali a observar os homens passando com seus pés, pernas e carros cansados.

veja só, um caminho que num dia distante se abriu passagem e lugar de não permanecer. passagem.

casas erguidas pela vida que lhes necessitou. nem feias, nem bonitas, esquisitas pela maioria das vezes, cor de alface, cor de palidez e terra vermelha. terra há alguma que ainda está lá por baixo da espessa massa asfáltica.

latem cachorros no fundo dos quintais e gargalham as crianças correndo livremente dentro dos portões.

na primavera floreiam as árvores e se arvoreiam cheias de luz no verão, iluminando as casas, as calçadas e os cães. então as crianças mais que gritam e correm suas chinelas a pedalar bicicletas.

as casas, antes esquisitas, parecem agora alegremente agradáveis e arejadas, cores amarelas, sol-do-meio-dia.

o asfalto duro suportando ainda carros e pés e bicicletas.

veja só! uma rua que se alegra de sol e banha-se agradecida nas chuvas repentinas e refrigerais. convida seus passantes.

veja só eis o tudo e o nada, de resto... só o esgoto que corre por baixo.
 

EXERCÍCIO TRÊS

terça-feira, 10 de agosto de 2010

tempo

"Descobri que o tempo sou eu! Eu sou a minha própria estação!
E a minha temporada de agora é de flores! De pétalas! De alegria!
O tempo esta em mim e estou para ele...e eu sou quem diz como deve ser."
 
Luna Alcântara - Interiorizado (14)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

outra dor

doeu ontem, doeu hoje o dia inteiro
na terça tive dor de estômago.
ando procurando deus.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

dor

Hoje, o homem que sofre precisa de sorte muito rara de encontrar um espaço desmobilizado (espaço de amizade) para autorizar a dor e desvendar o que ela sinaliza. Fora dessas condições, ele é necessariamente devolvido ao regime autobiográfico com uma ou duas costuras na ferida e mais um ou dois bálsamos neuroquímicos para parar de doer.
JG.PESSANHA, Instabilidade pérpetua