domingo, 23 de maio de 2010

habitus

que morada esta onde agora habito?
assumi contornos de minha existência, sou mais quem sou na vaga solidão preenchida dos amores amigos, dos livros e do meu caderno de escrita, parece que nada me falta...
vivo dias de brisa morna, esta preguiça desejosa de apenas habitar meu corpo, e esta leve dor no peito feita da saudade que sinto.
dezembro de minas, 2008

mundo

estive no mundo, mundo outro que vivi fazendo-me crer mundo meu, tecido pelo cotidiano raso e a ocupação na qual se dilui toda possibilidade de transcendência.
assim eu me fazia todas as manhãs do anseio dos outros e lhes deixava o mundo em ordem, mundo deles outros, de realidade explicada, correta, real. não era eu quem eu era e nem me lembro dos dias que foram, porque não eram dias meus.
assim vivi sem reconhecer-me, buscando contudo saber quem era a face que eu via no espelho; quem era a mulher que mirava-me ali? 
não nego porém, esta sonambula caminhada me legou vir a ser quem sou, e quem sou? uma existência que se sabe que se é, destinada aos sentidos, inteiramente percepção de um mundo, mundo eu constituída mundo.... admirável, sedento, ávido e espantoso mundo-eu.
é dezembro. verão. 2008

ausência

vivemos e habitamos uns aos outros entre as lacunas dos dias. minhas memórias se reconstrõem no reencontro de histórias alheias. a vida é surpreendente! tenho guardadas solidão e saudade, minhas raízes ficaram lá no "alto da boa vista" e por alguns anos morri, renasço agora na ausência tão dolorosa de meu pai e no reencontro com este passado. orfã muito cedo, faltava ainda muito dele para ser recebido por mim. os dias são alegres e eu tenho trabalhado tanto! assim as ocupações a que me dou preenchem os espaços, porém nunca me senti tão angustiada e tão só quanto agora. não há quem abra aquela porta, não há quem sente no sofá da sala, não há quem esteja junto e me traga alguma paz...

Meu nome

minha existência resume-se a uma angústia, uma falta do que não sei. nada que se faça, ou que se não faça, fará diferença na existência minha ao fim.
e o que dizer de existência! este signo que não basta, quando agora me faltam palavras enquanto me sobram agonias. e o que levo na dicotomia do que fizeram de nós: homem corpo, homem alma.
este que sou eu é toda a infinita falta do sentido e solidão de si. passo os dias me dando às minhas ocupações. assim vou àquele lugar todos os dias, mesmo querendo estar em outro, mas se em outro estivesse que mudaria no fim?
me alegro de tudo e sento, observo e depois me calo: não há o que se diga, porque não importa, porque nada acontece no meu dizer. e sou toda um fundo, fundo, fundo...
desejaria abandonar-me no viver, mas algo me prende a mim e aflora sensações, não racionalidades, não linguagem possível que constitua, apenas sensações neste corpo que eu sou e isto é tudo, mas é o quê?
após o silêncio, ainda há silêncio. após o vazio, ainda vazio. após o nada, nada.
eu estou aqui.
um 12 de março, quarta-feira, quase horas...

sábado, 15 de maio de 2010

conto mínimo

ela olhava os quadrados do piso atentando-se aos riscos e à luz refletida neles. ele, de sentimento entusiasmado, se dizia: meu deus estou aqui! ambos estavam à espera de algo a mais.
a tarde alegre e morna de outono os saudava.