segunda-feira, 12 de julho de 2010

_exercício 4º afetividade.

ela não podia deixar de ser. eu via um par de olhos de jabuticaba e a penugem negra sobre a pele muito fina com cheiro branco de azedo que até hoje procuro, assim como procuro eu mesma nela. desde estes dias lhe ofereço a vida a maneira que desejava que a tivessem oferecido a mim quando um dia habitei a infância.
dizem que depois que nasceu engravidou-se de mim e veio com ares de gratidão de vida. bem pequena, fixava os olhos de jabuticaba nos adultos, não chorava, não sorria, perguntava sem dizer: você quem seria? os anos passados lhe fez render-se aos sorrisos e faladeira.
sempre que a olho sei que estou ali. tem cabelos de cachos onde me afundo sem tempo. na presença dela, essa menininha, há sempre feliz aniversário, contar história inventada – de medo inclusive, fazer pose para a foto de mentira, pintar as unhas, escrever cartinhas de amor, brincar de comidinha, de colar figurinha e até brincar de mamãe e filhinha.

inspirado no curta-metragem "pai e filha" de michel dudok
 

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