sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

prevaricação

prevaricação: v.int.1. faltar ao dever de seu cargo, por interesse ou má-fé.

acontece que misturei tudo, os filmes com a comida, as poesias com as horas de trabalho e as melodias com a vida toda. choveu ontem e ainda há de chover outro tanto, de modo que estou desanimada, seja talvez a falta de alguns cafés, cafés da querida companhia dos amigos que tenho...uma pausa para a prosa nossa. chove e vem-me a aflição, portanto me distraio com as canções e os absurdos da insanidade orbitando minha mente e vêm ter comigo idéias. tenho pensado nisto às vezes e volto a pensar enquanto chove: aquilo que me alimenta é também o que me consome, contudo, haverá acaso algum lugar para o qual me recolha e me ausente de mim? quando a chuva cessa e dá-se-nos o sol, são os dias em que me sinto melhor, e nestes dias, de vez em quando, me vem um prazer sorrateiro na vida desapegada, admito: gosto da prevaricação! dias de meu olhar travesso, este sorriso no canto dos lábios apertados. “ah! que prazer não cumprir um dever” ah! que saboroso festejo o faz-de-conta, a moleza, a indolência e a lassidão. nestes dias possuo a vida como quem possui um segredo e escondido brinca com ele. nestes dias a vida é enorme, há bastante sol e reino em mim, sou extensa na vastidão de não usar-me ao devido, para antes, me dar ao que couber de maior graça, conquanto esteja além das preocupações dos homens vagantes que rumam sem significado, embora crédulos desta vida irremediável que se estampa na testa franzida. quanto a mim, deixo a insensatez assumir seu posto, danço, comemoro, sou coro, sou platéia, virá depois disto a chuva, as ruas todas serão de novo lavadas, a febre cederá e eu voltarei a brincar de realidade, olhando de quando em quando pelas janelas e esperando um outro sol.
k.guimarães, num dia de verão, 2008.

Um comentário:

Unknown disse...

Goostei deste texto, muito pessoniano!